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Os Cavaleiros de Maria continuam sua missão evangelizadora no Estado de Minas Gerais, na famosa cidade de Araxá.

A imagem de Nossa Senhora de Fátima percorreu diversas ruas da Paróquia de Santo Antônio levando conforto e paz a diversas famílias.

A devoção ao Santíssimo Sacramento faz parte de um dos pilares, das três devoções (Eucaristia, Maria e o Papa), que cada Arauto do Evangelho deve primar em esmerar-se face a vocação de anunciar o Evangelho, os preceitos do Senhor e da Igreja.

Um grande pregador da doutrina cristã foi São Tomás de Aquino cuja festa foi comemorada no dia 28 de janeiro. Conheça um pouco de sua história através do seguinte artigo elaborado por um dos estudantes de nossa associação na conceituada Universidade Romana: “Angelicum”.

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São Tomás de Aquino

“Aprendi mais diante do Santíssimo Sacramento do que nos livros…”

A Catedral do Pensamento Cristão

Corria o ano de 1248, a cidade de Colônia estava em festa. As autoridades religiosas e civis, bem como o piedoso povo, se reuniam para pôr a pedra fundamental daquela que viria a ser a maior catedral gótica do mundo. No meio do numeroso clero, viam-se dois frades de túnica branca e capa negra assistindo aquele solene momento. Eles a pouco haviam chegado da França.

O mais velho se chamava Alberto, cognominado magno. Era mestre da universidade de Paris, o mais sábio homem de seu tempo e a maior autoridade teológica do século; o simples fato de se enunciar nos meios acadêmicos a frase: “Albertus dixit” (Alberto disse), era suficiente para dar por encerrado qualquer discussão.

Entretanto, sobre o frade mais novo, pouco se sabia sobre ele, a não ser que era discípulo de Alberto e que tinha cerca de vinte três anos. Devido a sua habitual placidez e misterioso silêncio, passaria quase despercebido se não fosse sua grande estatura e avantajado corpo que o destacava dos demais.

Porém, debaixo daquele hábito da mendicante ordem de São Domingos, ocultava-se um filho da mais alta nobreza italiana, que tinha por primo Frederico II e como tio, o imperador do Sacro Império Romano. Este hábito também ocultava um dos maiores santos e um dos maiores gênios que o mundo viu nascer. Seu nome era Tomás de Aquino…

Todavia, era do conhecimento de muitos, o motivo que o trouxera a Colônia. Estava ali para auxiliar o seu mestre na fundação de um studium generale, que viria a ser o centro de estudos teológicos de sua ordem em terras alemãs. Porém, o que ninguém sabia, talvez nem ele mesmo, é que nos vinte cinco anos seguintes, Tomás iria construir também um magnífico templo. Tão sólido e duradouro como os alicerces da igreja de Colônia que via nascer.

Tomás iria edificar um monumento de doutrina, fundamentado na fé e na razão. Sua obra bem poderia ser chamada a catedral do pensamento cristão.

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Não é nosso intento, no curto espaço deste artigo discorrer sobre as obras e a doutrina do Aquinate, pois isto ultrapassaria nosso objetivo e possibilidade. Convém recordar que Chesterton, um dos principais biógrafos de Santo Tomás dizia (com uma boa pitada de ironia, é verdade), que suas obras “eram suficientes para fazer afundar um navio e encher uma biblioteca”.Por agora, apenas procuraremos esboçar alguns traços de sua personalidade, pois conhecendo a pessoa, mas fácil será depois compreender a obra.

E mesmo estabelecendo tais limites, falar de sua vida ainda não é tarefa simples. Os quase oito séculos que separam sua existência da nossa não foram suficientes para dar descanso à pena dos maiores estudiosos e escritores. Tal é grandeza de sua personalidade que um de seus contemporâneos chegou a afirmar que: “Ele podia restaurar sozinho toda a filosofia, se ela se tivesse perdido num incêndio”.Todavia, é nosso desejo, isto sim, levantarmos uma ponta do véu que encobre sua existência, a fim de despertar na alma do caro leitor, o anseio de se aprofundar na doutrina e exemplo do Doutor Angélico.

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Seu nascimento

O mundo o viu nascer no ano de 1225 no castelo de Roccasecca, próximo de Nápoles, na Itália. Dos sete filhos do conde Landolfo De Aquino, Tomás era o mais novo. Aos cinco ano foi enviado ao famoso Convento de Monte Cassino para lá ser educado, seu tio Sunibaldo era abade e encarregou-se de sua formação. Tudo indica que sua família ansiava que ele viesse a ser superior deste prestigioso Mosteiro.

Pouco se sabe deste período de sua vida, a não ser que este “pequeno monge” ao percorrer o majestoso claustro da abadia, inquiria os religiosos sobre um tema que não saía da sua mente: “Que é Deus?”

Não passaram para a história as respostas proferidas, mas é certo que ninguém lhe respondeu satisfatoriamente. Pois ainda criança, fez do desejo de encontrar a plena resposta a esta primeira indagação, a força motriz que o impulsionaria a produzir a maior obra teológica de todos os tempos.

São Tomás conhece os Dominicanos

O mosteiro de Monte Cassino estava localizado na divisa dos territórios pontifícios e era disputado nas guerras entre Frederico II e o Papa Gregório IX. Em 1236, a intranqüilidade atinge um nível tal que o próprio abade aconselha os pais de Tomás a retirá-lo da abadia. Em 1239 decidem enviá-lo à Nápoles para continuar os estudos e esperar tempos mais calmos.

É então quando tinha quinze anos que dá início a sua vida acadêmica começando pelo estudo de Artes na Universidade de Nápoles. É neste período que conheceu as obras de Aristóteles. Porém não foi o velho Estagirita que deu um novo rumo à sua vida, mas sim a figura de dois humildes dominicanos…

Fazia somente vinte anos que Santo Domingos fundara a Ordem dos Pregadores. Esta ainda vivia no fervor dos primeiros anos da fundação. Gerardo de Frachet, diz que certa vez um homem do povo aproximou-se de um dominicano e lhe indagou sobre que regra professavam; ao que ele respondeu:

A regra dos frades pregadores é esta: viver honestamente, estudar e ensinar; as mesmas coisas que pediu Davi ao Senhor quando disse: ‘Ensinai-me, Senhor, a bondade, a ciência e a disciplina’ (33).

Porém, o imperador Frederico II expulsou a ordem dominicana de seus domínios, permitindo que apenas dois frades ficassem para cuidar da Igreja que tinham em Nápoles. Foi o contato com estes religiosos que fez acender na alma do jovem Tomás a chama da vocação que jamais se extinguiria.

Mas para Tomás, devido à influência de sua família, fácil seria fazer-se abade de Monte Cassino ou Arcebispo de Nápoles. Todavia muito lhe custou ser dominicano.

As ordens mendicantes haviam sido suscitadas pelo Espírito Santo para combater os defeitos daquela época. Devido ao seu ideal de pobreza e renuncia ao mundo, era inconcebível para os familiares do jovem Tomás imaginar um Aquino a mendigar pelas ruas.

A todo custo tentaram demovê-lo de seu intento, mesmo assim recebe ele o hábito dominicano e parte para Roma. Sua mãe Teodora, inconformada, vai a sua procura, mas chegando a cidade eterna não o encontra. Tomás já havia fugido para Bolonha. Agora, são seus irmãos que acompanhados de uma pequena tropa partem em seu encalço. O encontram ainda a caminho desta cidade e o capturam. Em vão tentam arrancar o seu hábito e, em seguida, o levam de volta para casa. Agora, Tomás permanece cativo na torre de um dos castelos de sua família.

Tomás diante da tentação

E aqueles que deveriam ser os guardiões de sua inocência e castidade, chegaram ao absurdo de introduzir uma mulher de maus costumes naquela torre prisão para ver se desta forma o demoviam da vocação.

Porém, se esta foi a fraqueza de Sansão, o mais forte dos homens; a ignorância de Salomão, o mais sábio dos viventes; e, o motivo da queda do Rei Davi que não soube discernir as conseqüências de um só olhar; entretanto, foi esta a ocasião que fez erguer Tomás…

Ele se levantou da cadeira junto à mesa, em que aquela clausura forçada dera ocasião para que aprofundasse seu conhecimento nas coisas do céu; para em seguida dirigir-se até a lareira, apanhar uma lenha toda incandescente e brandir contra aquela que viera com o intuito de roubar sua virgindade.

Não é necessário dizer que aquela mulher fugiu rapidamente pela mesma escada em que subira, porém agora, tomada de terror. Tal fato nos dá oportunidade para uma consideração.

Muito se tem falado do temperamento plácido e calmo de Tomás. Todavia, apresentá-lo como um homem apático e desprovido de fibra é deturpar sua verdadeira imagem.

É bem certo que poucas foram às vezes que vimos este cordeiro se transformar num leão, que vimos o boi mudo converter-se num touro feroz. Todavia, muito mais certo ainda é afirmar que dentro dele havia este harmônico contraste.

Alguns traços de seu tipo humano

Uma das principais virtudes do homem medieval é a sua capacidade de admiração. Se, de acordo com certa concepção hodierna, eles nem sempre foram modelos de doçura e mansidão, porém no que se refere à capacidade de admirar e maravilhar-se, a história nos fornece incontáveis fatos.

Guilherme de Tocco, dominicano, foi incubido por seus superiores de preparar a primeira biografia do Aquinate, tendo em vista a sua canonização. Então, logo passou a recolher os fatos da vida de Tomás junto àqueles que o conheceram pessoalmente. Vejamos agora, como este Santo era visto por seus contemporâneos:

Tomás era: “Grande de corpo, estatura alta e ereta a corresponder à retidão de sua alma. Era louro como o trigo. Tinha uma grande cabeça, como exigem os órgãos perfeitos que requerem as faculdades sensíveis a serviço da razão. O cabelo um pouco ralo”. (Ystoria 38, p P. 321 ( Tocco 38 , pp. 111-12)

E, para aprofundarmos na compreensão de seu tipo humano, se faz necessário recordar o episódio narrado pela mãe de Reginaldo, seu secretário: “Quando Tomás passava pelo campo, as pessoas que se achavam ocupadas abandonavam seus trabalhos e corriam ao seu encontro, admirando a estatura imponente de seu corpo e a beleza de seus traços humanos.” (M.-H. Laurent, Un Légendier dominician peu connu, p. 43.) (pág. 327)

Bartolomeu, ao interrogar os que conheceram Tomás, eles “Acreditavam que o espírito Santo estava realmente com ele, pois estava sempre com o rosto alegre, doce e afável…” (Nápoles 77, p. 372) E Tocco nos recorda a capacidade que Tomás tinha de criar em torno de si um ambiente todo cheio de bem querença: “ele inspirava alegria aos que o olhavam”.

São Tomás entra na vida acadêmica

Ao ingressar na vida acadêmica, rapidamente mostrou a fecundidade inexaurível de seu pensamento. Sua sabedoria penetrou tão profundamente nos mistérios da fé que “estourou as comportas da inteligência humana e atingiu o firmamento dos anjos.”

Este Doutor, que mereceu ser chamado de Angélico, foi um grande luzeiro posto por Deus no meio de sua Igreja a fim de esclarecer, confortar e animar as almas pelos séculos futuros. Viveu apenas 49 anos, dedicando a metade de sua vida à nobre e árdua tarefa de ensinar nos mais importantes centros universitários da França, Itália e Alemanha. Foi neste período que conheceu o triunfo e a glória, mas também a luta e a contestação.

Guilherme de Tocco, seu primeiro e principal biógrafo afirma que: “nas aulas o seu gênio começou a brilhar por tal forma e a sua inteligência a revelar-se tão perspicaz que repetia aos outros estudantes as lições dos mestres de maneira mais elevada, mais clara e mais profunda do que as tinha ouvido”.

Soube ele unir harmoniosamente a santidade com a genialidade e a erudição com a virtude, para produzir a maior obra teológica de todos os tempos. E, ao longo dos quase oito séculos que separam sua existência da nossa, foi sempre exaltado com eloqüentes louvores pelo magistério da Igreja em termos não comuns nos documentos pontifícios. Vejamos alguns exemplos:

O Papa João XXII em 1318, afirmou que: “Ele só iluminava a Igreja mais que os outros Doutores; Nos seus livros o homem aproveita mais em um ano que durante toda a sua vida.” Já o Papa S. Pio V, em 1567, não foi menos categórico: “A Igreja fez sua a sua doutrina teológica, por ser a mais certa e a mais segura de todas.” E o Papa Leão XIII, em 1892 disse que: – Se se encontram doutores em desacordo com S. Tomás, qualquer que seja o seu mérito, a hesitação não é permitida; sejam os primeiros sacrificados ao segundo. Por sua vez, o Concilio Vaticano II aconselha que S. Tomás seja seguido nos Seminários e nas Universidades católicas. E o Papa Paulo VI comentando esse fato disse que: “é a primeira vez que um Concilio Ecumênico recomenda um teólogo, e este é precisamente S. Tomás de Aquino.”

Porém, como foi possível em apenas 25 anos de ensino, numa época em que não havia imprensa, em que as bibliotecas eram escassas e pequenas, uma atividade intelectual tão prodigiosa?

Quem nos dá a resposta é o próprio São Tomás. Ele mesmo confidenciou a Frei Reginaldo, seu confessor, que aprendeu mais em suas meditações na Igreja, diante do Santíssimo Sacramento ou na cela aos pés do Crucifixo, do que em todos os livros que havia lido.

Guilherme de Tocco insiste em dizer que: “Todas as vezes que ele queria estudar, iniciar uma disputa, ensinar, escrever ou ditar, retirava-se primeiramente no segredo da oração e rezava vertendo lágrimas, a fim de obter a compreensão dos mistérios divinos.” São Tomás: “entregou-se totalmente às coisas do alto, e foi contemplativo de um modo inteiramente admirável.” Ele vivia: “totalmente entregue às coisas celestes, na maior parte do tempo estava ausente dos sentidos, de tal modo que mais se supunha estar ele onde o seu espírito contemplava do que onde permanecia sua carne”.

E, durante o tempo da noite, Tomás, após um breve sono, ia prosternar-se diante do Santíssimo Sacramento, onde permanecia longo tempo em oração, para que rezando merecesse aprender aquilo que deveria escrever ou ensinar. Quando tocavam as Matinas, antes que os religiosos formassem fila para ir ao coro, ele retornava sigilosamente à sua cela para que ninguém o notasse.

O Doutor Angélico afirmou que, uma alma que não reza não faz nenhum progresso na virtude e que um religioso sem oração é como um soldado sem armas. Por isso, se alguém aspira à perfeição deve, sob pena de não poder avançar, se dar fortemente e seriamente a oração.

Era na vida de piedade que Santo Tomás adquiria os mais altos conhecimentos, compreendia os textos sagrados e encontrava a solução para os mais complicados problemas teológicos.

Pitoresco fato

Shesterton conta que um dos seus hábitos pessoais era caminhar dando voltas em torno do claustro. Andava depressa, com ímpeto e de cabeça erguida. Para o escritor inglês esta era uma: “ação muito própria dos homens que travam as suas batalhas na inteligência”.

Certamente numa destas suas caminhadas que ocorreu o seguinte fato. Um jovem frade necessitando ir à cidade, solicitou ao superior um acompanhante. Tomás estava somente de passagem no convento de Bolonha e como era seu hábito, caminhava a grandes passos no claustro, ruminando não se sabe que pensamento. Nesse instante se aproxima um frade que não o conhecia e lhe diz: “O padre superior me ordenou que o primeiro frade que eu encontrar deve me acompanhar até a cidade, e o primeiro que eu encontrei fostes vós…”

Então Tomás, com o gesto de cabeça assentiu ao chamado e segui-o sem nada dizer. Como o outro religioso era bem mais jovem e caminhava apressado, o Mestre ia ficando para trás, pelo que era repreendido constantemente pelo companheiro. O santo desculpava-se humildemente e esforçava-se em segui-lo.

Porém, alguns cidadãos de Bolonha que conheciam a Frei Tomás, ficaram admirados ao vê-lo seguir com tanta dificuldade um fradezinho de pouca condição e logo perceberam que se tratava de algum engano. Então, aproximaram-se deste e disseram-lhe quem era o seu acompanhante. O bom frade tomado de susto, voltou-se a Frei Tomás para pedir perdão e logo recebeu indulgência. E aqueles cidadãos voltando-se ao mestre, perguntaram qual o motivo que o levara a agir desta maneira. Ao que o santo respondeu: “A obediência é a perfeição da vida religiosa, pelo qual o homem se submete ao homem por Deus, como Deus obedeceu o homem em favor do homem”. (Forcada, 67- 68).

A principal devoção de Tomás

A Santíssima Eucaristia era a sua devoção preferida. Celebrava todos os dias, à primeira hora da manhã e antes mesmo de tirar os paramentos sacerdotais, assistia a uma ou duas missas. Quanto aos deveres religiosos, seguia escrupulosamente as orações da comunidade, sem usar das legítimas dispensas que tinha direito por exercer a função de Mestre. Ao avançar em idade, aumentou ainda o número de suas orações e meditações.

Certa manhã, enquanto rezava na capela de São Nicolau, um sacristão chamado Domingos de Caserta o observa, passado algum tempo nota que ele está levitando. E então, ouve uma voz que provém do crucifixo:

“-Falaste bem de mim, Tomás, qual será tua recompensa?

“- Nada além de ti, Senhor”.

No início da Suma Contra os Gentios, São Tomás faz suas as palavras de Santo Hilário: “O mistério de minha vida ao qual em consciência me sinto obrigado diante de Deus é que todas as minhas palavras e todos os meus sentimentos falem d’Ele”.

Quando se aproximava o término de sua peregrinação nesta terra, São Tomás pede os Sacramentos e os recebe com grande fervor, a chorar de alegria. Neste momento, afirma ainda a sua fé absoluta na presença de Deus na Eucaristia:

Recebo-te, preço da redenção de minha alma, recebo-te, viático de minha peregrinação, por cujo amor estudei, realizei vigílias, sofri; preguei-te, ensinei; jamais disse algo contra ti, e se o fiz foi por ignorância e não insisto em meu erro; se ensinei mal a respeito deste sacramento ou de outros, submeto-o ao julgamento da santa Igreja romana, em obediência à qual deixo agora esta vida.

Três dias depois, a 07 de março de 1274, de madrugada, é ungido. Responde a cada uma das santas unções. Instantes depois expira. A sua alma vai tão pura como veio. Tomás não parte, regressa. Espera-o Aquele de quem nunca, afinal, se separou.

Diác. Inácio Almeida, EP.

Blog dos estudantes Arautos em Roma: http://studentiroma.blog.arautos.org