Desejando ser fieis ao carisma dos Arautos do Evangelho “consistente numa visão arquitetônica, harmônica e hierárquica da ordem da criação visível e invisível, e num entranhado amor pela verdade a virtude e a beleza do universo, enquanto um reflexo de Deus” (Ordo de costumes dos Arautos do Evangelho) – de uma maneira especial esta contemplação estende-se às “netas de Deus”, às magníficas obras elaboradas pelo engenho humano com o fito mais alto de glorificar o Senhor – e aproveitando sua estadia na sobremaneira histórica cidade de Salvador, os Cavaleiros de Maria transformaram-se por alguns dias em autênticos peregrinos, visitando igrejas e lugares históricos de nossa primeira capital.
Destaca-se, por sua singularidade e distinção, a Basílica de Nossa Senhora da Conceição da Praia, templo sagrado a respeito do qual aqui vamos reproduzir um curto resumo histórico.
Uma viajante intercontinental
Uma igreja que fez viagem intercontinental! Esta é, com efeito, uma das mais interessantes características da Basílica de Nossa Senhora da Conceição da Praia. Numa época histórica em que atravessar o grande oceano – cuja instabilidade procedente de sua natureza líquida tão suscetível a movimentar-se violentamente por conseqüência dos ventos e tempestades (bastante comuns, aliás), o que o torna tão cheio de perigos de desastres que podem suceder da maneira a mais inopinada – de uma extremidade a outra naquelas pequeninas “cascas de noz” que constituíam as mais sofisticadas embarcações daquele tempo, fazendo transportar um edifício inteiro, e de grandes dimensões, de fato consistia num corajoso desafio. Desafio este triunfalmente enfrentado por nossos bravos “pais” portugueses na 2ª construção da atual Basílica.
Sua primeira construção data de 1549, sendo fundada pelo 1º Governador Geral do Brasil, Tomé de Souza e mantida pela família Aragão.
A respeito da, por assim dizer, aventurosa 2ª construção acima referida, ignora-se a sua data. O que se sabe é que em 1736 a Irmandade do Santíssimo Sacramento e da Imaculada Conceição decidiram reconstruir a igreja sob um projeto atribuído a Manoel Cardoso Saldanha. Tal projeto foi enviado a Portugal, para que Manoel Vicente executasse em mármore de lioz.
As pedras atravessaram o Oceano Atlântico, chegando como lastro de navio em 1753, iniciando-se as obras sob a direção do mestre Eugênio Mota. Apesar do inacabado da obra, a inauguração deste maravilhoso templo ocorreu em 1765.
Uma imagem tipicamente brasileira
Visitando este belíssimo edifício sagrado, todo ele refulgente de ouro, mármores e madeira de jacarandá, os cavaleiros de Maria tiveram a feliz alegria de contemplar e rezar diante de Nossa Senhora da Conceição da Praia, imagem da Virgem Santíssima a respeito da qual o fundador dos Arautos certa vez comentou ser a mais tipicamente brasileira por ele conhecida. De fato, sua fisionomia, em especial, é de uma graciosa beleza, que faz lembrar traços lusitanos, com um certo matiz da raça nativa de nosso país. Uma encantadora bondade é o imponderável que se desprende desta formosa imagem, aliada a um charme que não diríamos ser somente brasileiro, mas de um teor caracteristicamente baiano – ou, melhore-se a nossa linguagem, mais originalmente brasileiro, por ser a Bahia o berço esplêndido no qual nossa imensa nação, por assim dizer, deu seus primeiros vagidos, ou começou a estrear no cenário do mundo.
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