O Mistério da Presença Real
Um sacerdote português, ao ser interrogado por um cético em carta anônima a respeito da presença real de Nosso Senhor na Eucaristia, deu uma resposta tão espirituosa quanto substanciosa, que transcrevemos abaixo:
Pessoa tão corajosa, que nega sem mais a Presença Real de Cristo na Eucaristia não devia ter receio de assinar.
As cartas anônimas não costumam ter resposta, mas respondo-lhe apenas para não pensar que quem cala consente. Aquilo que não cabe na cabeça de ninguém, coube na cabeça de Cristo.
É só por Ele o ter afirmado, que nós acreditamos em tudo o que Ele revelou, fora da nossa inteligência finita.
A crença na Presença Real na Eucaristia reside nestas palavras de Cristo, palavras que não podem ter outra interpretação: “Tomai e comei; isto é o Meu Corpo, que vai ser entregue por vós. Este é o Meu Sangue, que vai ser derramado por Vós” (Mt 26-28, Lc 23,19-20).
Repare bem que Cristo não disse: isto representa, mas disse claramente: é. E disse mais, que este Corpo ia ser entregue e este Sangue ia ser derramado.
Pode porventura entregar-se um corpo simbólico ou repartir-se um corpo espiritual (tomai e reparti entre vós)?
Pode ser crucificado um corpo espiritual? Poderá ser derramado um sangue espiritual?
Recordo-lhe ainda, como confirmação, as palavras inequívocas de Cristo proferidas e não retiradas quando do anúncio da futura Eucaristia, apesar do escândalo que provocaram: “A Minha Carne é verdadeiramente comida e o Meu Sangue é verdadeiramente bebida” (Jo 6,48-54).
Iria Cristo chamar verdadeira comida e verdadeira bebida a uma carne e sangue apenas metafóricos?
Quando São Paulo, falando das Celebrações Eucarísticas, adverte os primeiros cristãos de que, quem comer o Pão ou beber o Cálice do Senhor indignamente será réu do Corpo e do Sangue do Senhor. Come e bebe a sua própria condenação (I Cor 13,23-29), estará a referir-se a simples ritos comemorativos, a ficções piedosas?
Não. São Paulo não usaria estes termos tão insofismáveis no caso de se tratar duma simples comemoração ou recordação à maneira luterana, e não duma realidade.
Depois, temos ainda o argumento da Tradição Apostólica (não confundir com simples costume) que, desde o princípio, e ainda antes de terem sido escritos os Evangelhos, ensinou sempre a mesma doutrina, sem a mínima hesitação.
Acha que os Apóstolos e a Igreja que se seguiu ao Pentecostes teriam alguma vantagem em ensinar dogmas superiores ao entendimento humano?
Se, pois, apesar disso, os ensina e se deixa matar por essa Fé, é porque não duvidada dessa realidade, nem atribuía um sentido meramente espiritual às palavras de Cristo.
Ajudará a compreender um pouco o mistério da Presença de Cristo no Pão e Vinho consagrados, o saber que o Seu Corpo não se encontra aí “localmente”, mas “a modo de substância” ou ente substancial, como Ser em Si, mas de modo invisível.
Jesus era constatável pelo Seu Corpo antes da Sua Ressurreição. Mas assim como depois da Ressurreição fez o milagre de Se tornar visível e sensível aos Apóstolos quando lhes aparecia, também na consagração da Última Ceia (como agora na Eucaristia) tinha poder de Se tornar invisível ou de tornar invisível a substância do Seu Corpo, sob as espécies do Pão e do Vinho.
Eu aceito que o senhor não compreende o “como” da presença corporal de Cristo na Hóstia Consagrada, porque eu também não compreendo, nem inteligência humana alguma é capaz de compreender.
Por isso a Liturgia, após a Consagração, na Missa, proclama: “Mistério da Fé”.
Será que uma simples criatura finita pode compreender o infinito?
O senhor também não compreende como é que este fantástico universo em que vive, desde as grandezas e distâncias abissais das galáxias, dos chamados “infinitamente grandes” aos “infinitamente pequenos”, pôde começar a existir a partir do nada e, no entanto, não se atreve a negar esta realidade.
O senhor não é capaz de compreender como é que o nosso corpo transforma o alimento em milhões e milhões de célula vivas, nem a fantástica urdidura do genoma ou “mapa-múndi” dos genes.
O senhor não é capaz de compreender como é que, no homem, coexistem o material e o espiritual.
E, no entanto, não se atreve a negar estas realidades e dizer que tais maravilhas inexplicáveis não cabem na cabeça de ninguém.
E só lhe resta o recurso de apelar para uma Inteligência infinita, para um poder infinito.
Então seja coerente. Incapaz de negar com argumentos válidos a divindade de Cristo, como se atreve a negar-Lhe a capacidade de realizar o milagre da Eucaristia?
E, para terminar, só um pormenor muito importante: não se pode esquecer que o Corpo ressuscitado de Cristo, espiritualizado, não se rege pelas leis físicas materiais.
Os seres espirituais, bem como os corpos espiritualizados, como o de Cristo, não podem ser limitados por espaços materiais, como o tamanho da Hóstia Consagrada é.
Cristo, depois de ressuscitado, fora das leis físicas materiais, aparecia aos discípulos atravessando paredes e portas fechadas.
Isto também não caberia na cabeça de ninguém, e, no entanto, esta realidade não pode ser negada.
Dou-lhe um conselho amigo: reflita, não se precipite a negar sem mais as realidades espirituais que não consegue entender.
Caso contrário vai ter que negar mais do que imagina, a começar pela sua própria existência e a sua inteligência, pois com certeza não lhe cabe na cabeça como é que as células materiais do cérebro são capazes de raciocinar espiritualmente.
Fonte: Pe. Heitor Moraes da Silva, S. J., Revista Magnificat, Braga, Portugal, 2006. Seção de consultas e respostas.
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Confira neste post as fotos das Santas Missas, adorações e bênçãos eucarísticas realizadas no período de Missões para Cristo com Maria na Paróquia Nossa Senhora do Patrocínio, em Tejupá – SP.
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